Artigo originalmente publicado em 20 de Maio de 2010.
Uma semana depois de Angel Beats! marcar uma audiência surpreendente para um anime com foco otaku – na região de Osaka, sendo que a lista do Anime Blade pega dados de Tokyo –, é oportuno discutir a real importância desta para os animes.
O modelo tradicional de comerciais como fonte básica de rendimento obtido com a série funciona em geral para os animes que passam em horários de maior audiência – tanto no horário nobre [usualmente, 18h-24h] como em outros horários focados nos mais jovens, como sábados e domingos de manhã [onde passam animes como One Piece – no Dream 9 cujo logo abre essa matéria -, Katekyo Hitman REBORN! e a franquia PreCure!].
Para esses, audiência é fundamental e a falta dela costuma levar a cancelamento – a não ser que a animação seja basicamente uma propaganda de uma franquia cujo faturamento tenha outras bases, como o atual Yu-Gi-Oh! 5D’s. Mas mesmo essa propaganda requer uma base razoável, mesmo que menor, de audiência – até mesmo para a franquia funcionar.
Mas é notável que muitos animes são exibidos justamente no horário que costuma ser mais ignorado pelos anunciantes, que é de madrugada [0h-6h]. O motivo disso é o fato das produtoras pagarem às emissoras pela exibição, com o objetivo de apresentar o anime ao público e conquistar fãs que comprem os caros DVDs/BDs japoneses [fonte principal de renda desses animes] e toda espécie de produtos relacionados, de mangas/light novels a action figures.
Fica claro que a audiência é irrelevante, até por esse público consumidor ser pequeno [o I.G. PORT, holding dona dos estúdios Production I.G. e XEBEC, recentemente estimou esse público em 300.000 pessoas – 0,5% da população japonesa] – tanto que uma tendência recente é a troca dos canais maiores por UHFs como a TOKYO MX na qual Railgun e Bakemonogatari passaram em primeira mão. Afinal, o público-alvo desse tipo de anime é dedicado e pro-ativo, não precisando o acesso ser nos caros canais maiores – e pode ser que as recentes transmissões de anime pela Internet indiquem um caminho para o futuro.
Além disso, é comum no Japão gravar programas de TV para assisti-los depois – apesar do fascínio dos fãs em querer ver em tempo real seus favoritos, acaba sendo uma opção viável em diversas situações. E isso também não conta na audiência.
Entre esses dois modelos opostos, há casos de animes que passam de madrugada, mas que são em parte bancados pelas emissoras. O bloco mais famoso nesse estilo é o noitaminA da Fuji TV – onde passou Nodame Cantabile e Higashi no Eden entre outros –, cujo produtor recentemente raspou a cabeça para chamar a atenção para a atual baixa audiência deste. Outros exemplos são o Anime no Chikara da TV Tokyo e os animes que passam na NTV de madrugada [Death Note, Kaiji e Kimi ni Todoke, entre outros].
O foco em um público maior e sem o apetite de consumo dos otakus requer que a audiência desse tipo de anime seja ao menos razoável – não precisa estar no patamar do horário nobre, mas não se pode dar ao luxo de dar traço. Tanto para ganhar mais renda de publicidade como para que o consumo dos produtos relacionados seja o suficiente para se ter lucro, mesmo com o consumo per capita obviamente menor.
Então temos isso: animes voltados ao público geral dependendo de boa audiência para se manterem no caro horário nobre japonês – e impulsionarem as vendas de seus produtos; outros voltados ao pequeno público otaku, bastando alguns milhares de fãs fieis comprando DVDs e todo o tipo de produto para conseguirem algum lucro, e que só passam na TV ainda porque é o meio mais eficiente para atingir seu público; e ainda os que querem agradar a um público maior que o otaku – portanto contam com mais audiência – e funcionam com um modelo híbrido de faturamento, contando com uma base consumidora não tão fanática.