Kaiji, 2nd Season

Nobuyuki Fukumoto e Yuzo Sato formam uma dobradinha difícil de resistir; já na primeira adaptação de um manga do primeiro pela NTV e MADHOUSE dirigido pelo segundo, Akagi, temos toda a glória do mahjong refletida no mundo sujo e subterrâneo lotado de personagens feios e desenhados com traço extra-grosso e narizes enormes onde a verdadeira força da natureza, que é seu protagonista, simplesmente impressiona o espectador com sua dosada presença.

E sim, mesmo tendo mahjong sendo jogado em nível complexo aqui, Akagi é um anime amplamente recomendado a todos que desejam assistir a um bom anime de esporte; bom, mas que poderia ser melhor – e é aqui que Kaiji, obra seguinte desta parceria, e seu protagonista profundamente humano, entram em jogo.

Pouco menos de dois anos após a estreia da versão televisivia de Akagi começa no mesmo horário e canal a saga de mais este fracassado absolutamente sem nenhum objetivo na vida além de continuar sobrevivendo que um belo dia recebe a visita de Endou, leão-de-chácara da organização criminosa Teiai – e este tem uma péssima notícia a dar ao rapaz que desconta sua raiva do mundo roubando símbolos metálicos de carros de luxo: um conhecido seu usou seu nome como fiador de uma dívida – e agora Kaiji deve se dirigir à uma macabra excursão ao navio Espoir em uma noite de jogatina e desespero onde poucos espertos conseguem safar-se e pagar suas dívidas.

Nesta sinopse já estão presentes os elementos que fazem de Kaiji um anime tão especial [e na opinião deste redator o melhor anime em um 2008 pontuado por CLANNAD, ToraDora!, Kaiba, Code Geass ~Hangyaku no Lelouch~ R2 e tantos outros]: a embalagem perfeita que pode conter um character design diferente a ponto de afastar potenciais fãs [pena deles, porque além de adequado ao espírito da obra, este torna-a mais divertida] mas tem uma trilha sonora muito inspirada [incluso o já antológico ~zawa zawa~] e uma direção dedicada a trazer o sofrimento do personagem a quem está do outro lado da tela. Nisso é um thriller em seu sentido mais puro, com cliffhanger maravilhosos que convidam o espectador a assistir só mais um episódio.

Assim, é claro que apesar de ser um belo fracasso em vendas de DVD, a bela audiência conquistada pelo anime é a maior nas madrugadas da emissora desde os tempos áureos de Death Note e NANA; e a ocasião do lançamento do segundo da bem-sucedida série de filmes em Live-Action com o personagem levaram os produtores à estratégia de uma segunda temporada do anime.

Em 26 episódios [pulem o 14, é recapitulação pura e safada] temos a segunda de até aqui quatro fases nas quais o manga se divide, sendo que o autor consegue ser inventivo para retomar uma história que tem um final satisfatório em sua primeira parte. Claro que só o fato desta continuação existir mata certo tema do original; mas mais do que nunca o que importa são os jogos e como o protagonista resolverá os desafios que são colocados na sua frente – a história mesmo existe e é bem [e sutilmente] tratada a ponto de no último episódio você se importar com os temas abordados. Mas não deixa de ser plano de fundo de luxo para o que realmente interessa: os jogos.

Temos presentes nesta segunda temporada versões modificadas de dois jogos bem japoneses que são o chinchirou e o pachinko, que levam a dois arcos com um fio de ligação e feeling diferentes entre si. Após uma brevíssima retomada, logo Kaiji chega ao inferno da prisão subterrânea onde o gerente local usa o chinchirou para arrancar o pouco dinheiro que os pobres coitados que estão ali recebem para ter alguma ilusão de escolha e recompensa naquele lugar literalmente maldito.

Após nosso protagonista, que mais do que herói ou anti-herói é um ser humano, chegar  literalmente ao fundo do poço, temos sua volta à ativa neste primeiro arco, bacana mas que é somente um aperitivo para o que virá a seguir – ele pode ser [e é] legal mas sem dúvida temos aqui o mais simples e menos emocionante arco da série.

E o build-up construído neste arco acaba agravando o grande problema que temos na série: o fato de, por decisões comerciais, esta praticamente ser obrigada a durar vinte e seis episódios quando o tamanho do original adequa-se melhor a uns dezoito ou vinte – é bacana sofrer de ansiedade durante a semana a espera do próximo episódio, mas o segundo e final arco, The Bog é muito mais que isso, sendo um verdadeiro teste de paciência para os dispostos a encarar Kaiji. Desnecessariamente enrolado, em parte o alívio sentido ao chegar ao clímax seja involuntário, como no fim de um verdadeiro sofrimento.

Isso é mais importante que parece e acaba desbalanceando um arco que sim, propõe boas ideias, mas é apenas bom quando deveria ser lendário. Como dito na resenha do Primeiro Episódio, ainda no Subete Animes, logo em seu começo o anime já aparentava ser uma diluição do original – e em uma análise focada no feeling geral da obra é isso mesmo.

Algo comentado na internet que também vale ser divertido é a presença do The Bog como um fator que limitou o pleno desenvolvimento dos personagens na série – argumento que é válido, mas somente em partes. Tanto a presença da terrível máquina é um gostoso diferencial em uma obra que afinal é esquemática quanto podemos apreciar a gostosa aparição do grande antagonista desta segunda temporada de Kaiji: o mauricinho Ichijou.

Ao contrário do insano e superior Hyodo, que é praticamente um Akagi no mundo de Kaiji, aqui temos justamente um igual que pode ter melhores chances na vida; mas será que possui a [força de] vontade quase invencível de Kaiji? Afinal, o que importa neste confronto entre o gente como a gente Kaiji e o arrogante mas também tão humano Ichijou é o tempero que este dá entre as inúmeras reviravoltas em um anime de estrutura comprovadamente tão simples.

Mesmo sendo eclipsado pela forte sombra da primeira temporada – o que provoca o evidente tom de decepção presente neste artigo – este 2nd Season aproxima-se de Akagi por ser um bom anime e mesmo que evidentemente falte magia, temos garantia de sólido entretenimento para os dispostos a finalmente largar o preconceito de lado e encarar este anime diferente a algo cruel como é a vida real. Se você gosta de histórias simples, bem executadas e está cansado das garotinhas que povoam os animes nos anos 2010, Kaiji é uma escolha sólida e confiável para você.

[mas se curte um bom harém, que tal conferir o review de Steins;Gate]?

3 Comentários

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3 Respostas para “Kaiji, 2nd Season

  1. Não vi muitos episódios da segunda temporada, mas eu to lendo o mangá.

    Kaiji é bom demais.

    Quem canta essa abertura do Kaiji 2 é o mesmo do encerramento do Hunter x Hunter 2011, quem ainda não percebeu ^^.

    O Fear,and Loathing in Las Vegas.

    Aliás, as osts do Kaiji 1 e 2 são compostas pelo mesmo cara do Death Note,
    Hideki Taniuchi. Ele é muito bom, suei naquela ost que toca na parte da ponte, na primeira temporada.

    Kaiji é um anime que dá pra assistir tudo de uma vez tranquilo, você não consegue parar.

  2. Pingback: Melhores Animes de 2011 | Nahel Argama

  3. Bela review. Assisti ambas as Seasons do Kaiji. Para mim, esse foi um excelente anime, me envolveu com o anime, (Torci muito pelo Kaiji quando ele desafiou o “The Bog” e quando ele ganhou do “The Bog”, eu realmente me senti aliviado e senti como se eu também tivesse ganhado/alcançado algo) algo bastante raro.
    Na minha opinião, não querendo diminuir ou reclamar do seu post, talvez seja bom ressaltar que graças ao sucesso de Kaiji, ele ganhou 2 movies Live-Action, que apesar de distorcerem um pouco a história original, tem seu próprio brilho também, com o segundo Movie retratando um pouco da história da 2nd Season.

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